AO FINAL, TUDO NÃO SERIA VAIDADE?
“Eis que fizeste os meus dias como a palmos; o tempo da minha vida é
como nada diante de ti; na verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é
totalmente vaidade”. Salmos 39.5.
Não há limites para o
aprendizado, a não ser quando atravessarmos a fronteira da eternidade. Enquanto
do lado de cá, estaremos sempre aprendendo. Chegar aos Noventa, reconheço é um
privilégio para poucos, mas não tem sido uma tarefa fácil, sobretudo, para
alguém autônomo desde a infância, menino criado em colégio interno tendo que
cuidar de si e de suas próprias coisas, longe do zelo materno. E muito mais
especialmente quando a mente esquece que o corpo já não tem a mesma agilidade e
se tornou pesado demais para os comandos que recebe da mente obstinada e que se
recusa a desacelerar.
De repente me dou conta que
já não tenho mais vinte, trinta, quarenta, cinqüenta, sessenta, setenta,
oitenta anos... São noventa anos e meio. Os acidentes domésticos parecem me
espreitar ou será que não faço caso deles? As mínimas coisas e pequenas
tarefas, sempre feitas com desenvoltura e quase no automático, parecem
ameaçadoras. Preciso aprender a desacelerar e prestar mais atenção aos
obstáculos que se interpõem no meu caminho a toda hora. Lembrei-me agora das
idas e vindas, sempre correndo no exercício da profissão de publicitário, num
passado cada vez mais distante, carregando aquela pesada pasta de trabalho.
Tudo parecia célere, contudo, mais veloz que a agilidade daqueles dias que já
se vão longe é a rapidez inexorável do tempo. Aliado ou algoz? Depende do ponto
de vista!
Passei a vida inteira
ocupado em cuidar e prover, sempre fui autônomo demais para ser cuidado! Agora
na atual fase, estou tardiamente aprendendo a ser cuidado. Confesso que não é
uma tarefa fácil. Constranjo-me, em alguns momentos, me entristeço em outros,
mas reconheço é aprendizado necessário. Tenho me esforçado para ser um bom
aluno, mesmo longevo e assentado no mirante dos noventa anos. Deus tem sido
extremamente misericordioso comigo, não por merecimento, é claro. Tenho uma
grande consciência que tudo é graça de Deus. Esse seu favor imerecido, que nos
faz seus eternos devedores, exclui totalmente a meritocracia.
Fui um homem de evidencia,
pelo próprio trabalho abraçado no rádio e em outros meios de comunicação. O que
significa que a vaidade sempre foi um capítulo a parte. Gostava dos aplausos, do
calor do público confesso! E também confesso que essa vilã não me abandonou de
todo ainda hoje. Está sempre à espreita tentando me passar uma rasteira. E nos
últimos dias do ano ela me aprontou mais uma. Esta semana caí no jardim, fui
apanhar uma manga da minha mangueira predileta. O que a vaidade tem a ver com
isso, afinal? Tem muito. Ela está lá a me dizer que eu posso sim, que é uma
humilhação depender dos outros para as tarefas mais simples como apanhar uma
simples manga do chão ou o jornal de todas as manhãs. Resultado? Mais um
acidente doméstico que quase foi fatal, não fosse a mão misericordiosa do nosso
Deus! Quão tola é a vaidade, quão tolos somos nós ao dar ouvidos aos apelos
dessa vilã cruel!
Deparei-me com o versículo
citado acima do salmista Davi: “Eis que
fizeste os meus dias como a palmos; o tempo da minha vida é como nada diante de
ti; na verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é totalmente vaidade”.
Quanta verdade trazida aqui por meio daquele que foi chamado de “Homem segundo
o coração de Deus”, não porque não pecasse ou não fizesse nada reprovável, mas
pela sua capacidade de se arrepender e fazer o caminho de volta para Deus, abandonado
as velhas práticas. Temos muito a aprender com ele e com tantos servos de Deus
do passado. Assim, ao final, tudo não seria vaidade? “Por mais firmes que
estejamos é pura vaidade sim”. Não podemos perder de vista que se estamos de pé
é porque somos sustentados por Aquele ao qual devemos honra, glória, louvor e
gratidão eternamente!
Manoel Malta (pelo olhar de Nadia Malta) em 03.01.18.
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