TAMBÉM ESTOU ENTARDECENDO, VIRAREI POR DO
SOL!
Li outro dia uma frase de um poeta, de quem
até então, nunca havia ouvido falar chamado Marcos Luedy que me encantou de um
jeito muito especial e consolou o meu coração neste momento da minha jornada.
Diz assim: “As mães nunca morrem. Elas entardecem, tingem de nuvens os cabeços
e viram por do sol!”, que coisa mais linda! Só uma alma sensível poderia
descrever esse momento com tanta delicadeza e caridade! A minha mãe está
entardecendo com seus cabelos tingidos de nuvens caminhando para seu
crepúsculo. Já faz alguns anos que ela foi “roubada” de nós pelo “ladrão de
almas”, que é o mal de Alzheimer. Seu corpo está lá, mas as memórias se foram.
Quantas memórias consegui resgatar e guardar comigo, outras no entanto, foram esvaídas
pelo tempo! Peço ao Eterno que me faça pródiga nessas memórias inigualáveis,
sobretudo, dos ditos, trejeitos, de causos, respostas vindas de um raciocínio
rápido e comparações incomparáveis. Perdoem-me a redundância! Que eu possa
passar para a minha posteridade tudo que me foi legado por ela.
As intercorrências trazidas por esse ladrão
implacável são muitas! Mas a essência permanece! Nos últimos dias têm sido muitas
as melhoras e pioras. Tudo muito doloroso para todos, mas especialmente para a
minha querida e incansável irmã Valéria, sempre a postos! Ela, mais que todos
nós tem se transformado em mãe da nossa mãe. É assim, nos transformamos em pais
da morte dos nossos pais. Os Períodos de UTI têm sido alternados com o leito da
enfermaria por causa de uma bactéria oportunista. Ela resiste bravamente,
contrariando todos os prognósticos! Nesses dias tivemos a boa notícia que a
bactéria foi finalmente vencida. O estado ainda inspira muitos cuidados, mas
ela segue seu curso. É uma guerreira valente e não se rende facilmente! Aliás,
rendição definitivamente é uma palavra que não se aplica a ela. Finalmente
conseguiu fazer a gastrostomia, a pequena intervenção através da qual será
introduzida uma nova sonda para alimentação. O que vai aliviá-la da antiga e
incômoda sonda nasal. Alguns sustos, mas ela tem resistido e vencido a cada um.
Louvado seja o Eterno por tê-la feito assim! Que bom que sou retalho daquele
pano e farinha daquele saco. Somos guerreiras, não é mamãe? E só pela
disposição de lutar, já somos vencedoras!
Olhar para ela é olhar as gerações passadas
de avós e bisavós, todas foram mães que entardeceram e também tingiram seus
cabelos de nuvens e viraram por do sol, como tão bem disse o poeta! É olhando
para essa ancestralidade forte de mulheres de fibra, que de repente paro e me
dou conta que pertenço a esse clã e também estou entardecendo. E um dia virarei
também por do sol. Sigo confiante para o
meu próprio crepúsculo. Estou em paz com Deus e com o tempo. Ele é um bom e
sábio aliado. Abandonei as tintas
artificiais e deixei que o tempo usasse sua própria tinta extraída da brancura
das nuvens e pintasse meus cabelos. E tudo tem sido tão suave, sem o desespero
de correr atrás da eterna e inexistente juventude ou mesmo de tentar barrar a
ação inexorável do tempo, como sabiamente diria meu marido! É melhor fazer as
pazes com o tempo e tê-lo como nosso aliado. Brigar com o tempo é péssima
escolha. De nada adianta tentarmos mudar a embalagem, isto não revalidará o
produto! Assim, que venham os anos que ainda terei que viver se for esta a
vontade do meu Senhor, do contrário, estou pronta para o meu crepúsculo, afinal
ele também tem seus encantos, até que anoiteça completamente e a minha noite
alcance um novo alvorecer!
Para o cristão, o crepúsculo não assusta
ele é sempre seguido pela Aurora perene. O raiar do Sol da Justiça é algo real,
esperado e iminente. Entardecer e anoitecer é o caminho de todos os mortais! Entardeceremos,
anoiteceremos inevitavelmente, mas amanheceremos para a nova e verdadeira vida!
É depois do inevitável crepúsculo que a nossa vereda irá “brilhando mais e mais até ser dia perfeito” disse o autor de
provérbios com a sabedoria que lhe fora dada pelo Eterno. Sigamos sem nos
assustar com o crepúsculo, pois amanhecerá para nós! Nadia Malta. Em 02.02.17.
Um comentário:
Parabéns pelo texto e testemunho. Sinto-me honrado e agradecido pela citação do meu poema. Grande abraço.
Marcos Luedy
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